30.12.07

Os Amigos

(Klimt)

Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham,

a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria –
por mais amarga.

(Eugénio de Andrade)



24.12.07

22.12.07

20.12.07


a pétala azul soltou-se no vento
voou foi voando aos círculos aos círculos

a andorinha bicou-a

sei um ninho e é azul

17.12.07


(Senhora com o Menino Salvador do Mundo-Cerejais)

Não choreis, belo Menino,
Se de amante vos prezais,
Porque amor que chora mais
É sempre amor menos fino.
Limpai o vosso rosto divino
A quem a minh’alma adora,
Que se a vossa Mãe vos chora,
Meu Deus, com tantos rigores,
É porque ao nascer das flores
Costuma chorar a aurora.

Jerónimo Vaía (n. 1620/30; m. 1688)


15.12.07

(Foto de Marco Pedrosa)

*
Os corvos têm andar pobre, mas voam com o brilho todo nas asas.

No fundo do quintal não há rumores de água, mas uma manhã de sol ainda vai trazer os solfejos esperados

mesmo nas asas dos corvos.

*
Dou sementes aos pássaros.
Acodem corvos de asa arrastada, mas voam brilhantes como música.

*
Todas as manhãs ponho a mesa e espero a música.

13.12.07

Nem brava, nem mansa. No fundo do quintal não há rumores de ribeira, mas as manhãs de sol ainda vão trazer solfejos de água.

Às manhãs duras hei-de dar diques;
assim mesmo: hei-de dar diques,

como quem diz: ide para o inferno.

11.12.07

São quinze horas e vinte minutos, dia 11 de Dezembro. Estava a ouvir Sócrates a falar do nosso ensino. Estou cheio de nojo. Dele e do que ele representa.
Vim aqui só para dizer isto. Que nojo...
Que nojo...

8.12.07

(Foto de Marco Pedrosa)

Em pequenito de escola, escondi debaixo do jornal que forrava a gaveta da cómoda um papel:

“…, gosto dos teus olhos e da maneira como andas” .

O papel não lhe chegou aos olhos (…a minha irmã mais velha ainda hoje diz que não foi ela – lá em casa dizia-se que eu ia para padre…) e deve ter sido bom.

Uma vez, olhei-a muito e disse-lhe pareces uma cigana.

Já sabia que não era só pelos olhos: era linda a andar e não soube dizer-lho.

Ela zangou-se e comecei a dar-me conta de que olhava para todos da mesma maneira.





4.12.07

(Foto de Marco Pedrosa)


Queria ter a posição dos claustros
A posição do monge antigo que os varre
A posição do moribundo que pergunta as horas
A posição das árvores quando as crianças sobem
A posição dos ramos quando os ninhos nascem
A posição de alguém que já não mora. Queria
Como se tivesse
A posição da casa e alguém me visitasse

Daniel Faria; Dos Líquidos

27.11.07

Das romãs

quero pedir uma coisa
já é teu e não peças só isso
já temos duas coisas e o dia mal começou

as folhas andam a pôr o chão de muitas cores vemo-nos com as cores do chão estamos adolescentes vamos soprar leve sobre as palmas das mãos folha a folha vamos ficar da cor das romãs
e entramos ligeirinhos em casa

23.11.07

O gato


Sempre
de muito longe
é que nos olha.

Andar
sobre fumo
é arte
é gume
suspenso.

Estará
uma hora
imóvel
no tempo de si próprio.

O sol é o escravo que lhe traz incenso.

(Mário Castrim, Histórias com juízo)

21.11.07


Boa tarde!

14.11.07

O Silêncio


Ouve, meu filho, o silêncio.
É um silêncio ondulado,
um silêncio
donde resvalam ecos e vales
e que inclina a fronte
para o chão.

Federico García Lorca - Trad. de Eugénio de Andrade

12.11.07

Um fragmento de Safo

A noiva

Tal uma doce maçã rubra, que brilha no alto dos ramos,
mesmo no cimo de tudo, esquecida dos que andavam na colheita,
- esquecida não, é que não conseguiram atingi-la.

(leitura de Maria H. Rocha Pereira)


A maçã no ramo mais alto

Sozinha, a doce maçã enrubesce no alto ramo,
alto, altíssimo, pois esqueceram-na os apanhadores da maçã.
Na verdade, não a esqueceram: não conseguiram foi lá chegar.

(leitura de Frederico Lourenço)


No ramo alto, alta no ramo
mais alto, uma maçã
vermelha
ali ficou esquecida. Esquecida?
Não, em vão tentaram colhê-la.

(leitura de Eugénio de Andrade)

4.11.07

Tenho trato com o vento. Ele traz-me os cheiros do meu amor e leva-lhe os meus recados. E faz muito bem o que tem de fazer. Se a porta está fechada, pára e espera com muita paciência. Não vai pela janela, que não é entrada das pessoas. Quando a porta se abre, vai devagarinho e sem barulho pôr uma flor na cama do meu amor. Leva o meu cheiro e umas gotas a reluzir.
podem ser do orvalho ou gotas salgadas.

Espero com a paciência do vento.

30.10.07

(foto de Marco Pedrosa)

Saem ao sol e à noite. Choram, riem, velam, desvendam. Até nos silêncios.
Mostram-nos e
nem sempre é o desejado.

Sabem que são amor e desamor, luz, gelo, veneno. Não são atentas.
Não nos mostram e
não é o esperado.

As palavras não são afáveis.




27.10.07

GAZEL DO AMOR DESESPERADO

A noite não quer vir
para que tu não venhas,
nem eu possa ir.

Porém eu irei,
embora um sol de lacraus me devore a fronte.

Porém tu virás
com a língua queimada por chuva de sal.

O dia não quer vir
para que tu não venhas,
nem eu possa ir.

Porém eu irei,
entregando aos sapos meu cravo mordido.

O dia e a noite não querem vir
para que por ti morra
e tu morras por mim.

García Lorca (Trad. de Eugénio de Andrade: Escrita da Terra)

20.10.07

Conversitas



- Bastem-nos três tempos. O de se sair de casa; outro para termos saudades. E outro para...
- Deixa. Não é preciso dizer já tudo. Escolhemos depois. Quem tiver de escolher.
- E guardamos as saudades.
- É isso!

15.10.07

Berceuse



Que me dizem os teus olhos de água?
Que tenho talvez sede, uma sede final.

Que me diz a tua boca bela?
Que a minha felicidade está toda aí.

Que me diz a tua fronte de estrela?
A lâmpada arde dentro de casa.

E os teus belos braços em corbelha?
Que me terás tranquilo e silencioso.

Noël Vesper(Nouvè Vesper)
-in: Antologia da Poesia Provençal Moderna, Selecção de Louis Bayle e Manuel de Seabra; Tradução Directa do Provençal de Manuel de Seabra; Editorial Futura, 1972-

12.10.07

Por vezes digo: tentemos ser alegres,
e parece-me prudência a minha,
tão escavada é agora a deserta medida
à qual foi prometido o grão.

Por vezes digo: tentemos ser graves,
não se diga nunca que jorra para mim
sangue de vitelo gordo:
e ainda me parece prudência a minha.

Mas mesmo sem culpa a quem assim enche
de hipóteses o deserto,
de imagens a noite escura, alma minha,
a este será dito: tiveste o que era teu.

Cristina Campo, O Passo do Adeus, tradução de José Tolentino Mendonça - Assírio e Alvim

1.10.07

De pequeno aprendeu-se, sem se saber dizer, que a sombra e a quentura da casa era o que nos apagava o choro e nos dava o sorriso.

O nosso saber era do tamanho da sombra da casa e o coração tinha os limites dos olhos dos pais.
Éramos tão grandes e importantes como a voz grossa do pai e cabíamos nos olhos da mãe,
que eram grandes como o alguidar de água morna em que nos lavava.

(Durante um debate na Televisão: quem decide pelos mais pequenos?)

26.9.07

"Bom dia, como está?", "bem, obrigado"; ou "ora viva!", "bem haja"; outras vezes, "hoje o tempo está melhor", "é verdade". Uma vez ele disse "já não há frio como dantes!" e eu não respondi, mas fiquei a pensar.

Via-o no café e eram assim os cumprimentos.

Hoje, não foi.
As mesas estavam cheias e ele ofereceu-me lugar na dele. Quem passou ao lado perguntou-lhe se estava melhor. Pela resposta não entendi quem estava doente e perguntei-lhe. "Sabe, é a minha mãezita; está no hospital; o coraçãozito..."; encolheu os ombros como fazemos para dizer "pois é, vamos ver o que acontece!"

As palavras pequeninas agarraram-me e hei-de sentar-me mais vezes na mesma mesa e falaremos do tempo doutra maneira.

23.9.07

O anoitecer situa as coisas na minha alma
Como as cadeiras arrumadas
Quando os amigos partiram.
...

Vitorino Nemésio

(P.s. Hoje estou assim...)

19.9.07

Conversitas



- Com o tempo, vai aparecendo uma certeza: há coisas simples lindas.
E uma quase certeza: há pessoas simplesmente boas e são
lindas.
- Conhece-las?

Os dois sorriram.

17.9.07

Felicidade

A felicidade sentava-se todos os dias no peitoril da janela.

Tinha feições de menino inconsolável.
Um menino impúbere
ainda sem amor para ninguém,
gostando apenas de demorar as mãos
ou de roçar lentamente o cabelo pelas faces humanas.

E, como menino que era,
Achava um grande mistério no seu próprio nome.

Jorge de Sena

15.9.07

A Paz



Ter em minhas mãos
Uns jasmins com sol,
Com o primeiro sol;
Saber que amanhece
Em meu coração;
Ouvir de manhã
Uma única voz...

É tudo o que eu quero.

Regressar sem ódios,
Calmo adormecer,
Sonhar ter nas mãos
Silindras com sol,
Com o último sol;
Dormir escutando
Uma única voz...

É tudo o que quero.

Juan Ramon Jimenez, Trad. de Manuel Bandeira

10.9.07

(Foto de Marco Pedrosa)


O sol fechou o dia
Sem mão nem chave;
A pouca luz que havia
Deu-a para uma ave.

Então a ave selou
Com seu sono seu ninho,
E a terra toda amou
na casa do passarinho.

Um ovo é como uma chave,
Mas só abre a vida às penas.
Apetece ser ave,
Ter as mágoas pequenas.

Vitorino Nemésio, Eu Comovido a Oeste (Vol. I - Imprensa Nacional-Casa da Moeda)

8.9.07



Converso com este amigo uma vez por ano. É neste dia que vamos os dois pelo terrunho onde crescemos. As certezas que, de ano em ano, lhe vejo aumentadas dão-me raiva mas também inveja. A tranquilidade dele dão-lha as certezas. A mim só me crescem as dúvidas. E, durante muitos anos, lemos as mesmas coisas....

6.9.07

1.9.07

Cartas da tarde

Vamos jogar ao faz de conta?

Tu eras o pião e eu era a corda.
Depois trocávamos: eu dançava e tu lançavas-me.
Era preciso medir os círculos que escrevíamos e comparar a esbelteza dos voos.
Arranjávamos dois juízes, menino e menina;
para o lance um e ela para o rodopio e parecia que só tinham olhos um para o outro.

29.8.07

(Foto de Pedro Pedro)

às vezes fica-se assim
não leva ninguém não derruba tem olhar meigo

18.8.07

Poesia

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

(Carlos Drummond de Andrade)

16.8.07

Dos sorrisos

(foto de Marco Pedrosa)


Ninguém lhe compra um sorriso, mas vai dar a alma quando certo olhar lhe trouxer o que deseja.

11.8.07

Conversitas

- Escuta isto do Daniel Faria:
”Se acender a luz
Não morrerei sozinho."

- Está bem. Mas, se apagar a luz, vejo mais para dentro e não preciso de fechar os olhos…

- Mas, assim, não dou conta de que também estás a olhar para mim. E, se pelo rabinho do olho, entrar uma ponta de luz…

- E é preciso?

- Quem olha gosta de saber que está a ser olhado!

- Não era da luz do Daniel que estávamos a falar?

- Mas eu não mudei de conversa!

- Pronto, vou acender a luz.

8.8.07

Em ti a profusão
do que a alma procura

A água O vinho O pão
O leite O mel A fruta

David Mourão Ferreira

24.7.07

Escrevendo

Escrevendo quis eu
Salvar a minha alma.
Tentei fazer versos
Não consegui.
Tentei contar histórias
Não consegui.
Não se pode escrever
Para salvar a alma.
A rendida parte à deriva e canta.

Marie Luise Kaschnotz - Trad. de Paulo Quintela

Nota: por uns tempos, vou derivar.
Bons dias.
Beijos.
Abraços.

20.7.07

Cartas da tarde

(Foto de Marco Pedrosa)

A manhã soprou doce, o chão trouxe as lembranças dos primeiros desejos e a tarde vai calma.

Vamos para o areal, para o sítio onde é costume chegar a ponta da maré. Aquela curva da rocha, onde, a princípio, a manhã nos acordava; era lá que vinha uma onda atrevida fazer cócegas nos corpos. Ríamo-nos: o mar a pensar que tínhamos gasto as forças todas e a querer continuar as carícias.

Vamos para o areal, por desejos que abençoem a tarde.

19.7.07

Escrevo

Escrevo já com a noite
em casa. Escrevo
sobre a manhã em que escutava
o rumor da cal e do lume,
e eras tu somente
a dizer o meu nome.
Escrevo para levar à boca
o sabor da primeira
boca que beijei a tremer.
Escrevo para subir
às fontes.
E voltar a nascer.

Eugénio de Andrade, Os Sulcos da Sede.

18.7.07

O poeta pede pão


um pão que saiba a pão,
se a alegria não sabe,
um pão que saiba a sol
e ao mar do sal.

um pão que saiba a chão,
se a amor não sabe,
um pão que saiba a seiva
e a lábio de mulher.

um pão que saiba à mão
de quem o faz.
um pão que saiba,
mesmo que pouco, a paz.

António Rebordão Navarro, Longínquas Romãs e alguns animais humildes - Selecção e prefácio de Francisco Duarte Mangas - ASA

15.7.07

O princípio


Dois gregos estão a conversar: talvez Sócrates e Parménides.
Convém que nunca saibamos os seus nomes; a história, assim, será mais misteriosa e mais tranquila.
O tema do diálogo é abstracto. Aludem por vezes a mitos, de que ambos descrêem.
As razões que alegam podem abundar em falácias e não chegam a um fim.
Não polemizam. E não querem persuadir nem ser persuadidos, não pensam em ganhar ou em perder.
Estão de acordo apenas numa coisa; sabem que a discussão é o não impossível caminho para chegar a uma verdade.
Livres do mito e da metáfora, pensam ou tentam pensar.
Nunca saberemos os seus nomes.
Esta conversa entre dois desconhecidos num lugar da Grécia é o facto capital da História.
Esqueceram a oração e a magia.

Jorge Luís Borges, Atlas; trad. de Fernando Pinto do Amaral (Obras Completas, vol. III. Editorial Teorema)

14.7.07

Pela manhã, procura as palavras que expliquem o dia. Vão chegando, uma a uma. Todas trazem gotas de água, pingos de sal, a cor do rubi, pétalas breves mas pétalas e as formas todas da espera.

Pela tarde, uma a uma, vão-se recolhendo. Mas as formas da espera continuam a tremeluzir.

11.7.07

Hoje, comecei assim: no rosmaninho estava um passarinho morto. Pelas penas, era pintassilgo e deve ter sido caída dos primeiros voos.

Veio à memória aquilo de Catulo “passer mortuus est meae puellae”. Mas não, que aqui as bicadas dos pássaros querem-se na fruta das árvores e nas amoras…

Plantei o corpito ao lado do diospireiro; aquele que não chegou a ser músico é alimento da árvore trigo dos deuses.

E os diospiros que estão a tomar corpo devem trazer alguma música. Lá para os primeiros frios.

9.7.07

Quanto à observação de mim mesmo, obrigo-me a isso, quanto mais não seja para entrar em composição com este indivíduo junto do qual estarei forçado a viver até ao fim, mas uma familiaridade de sessenta anos comporta ainda muitas probabilidades de erro. No seu aspecto mais profundo, o meu conhecimento de mim próprio é obscuro, interior, inexpresso, secreto como uma cumplicidade. No seu aspecto mais impessoal, tão gelado como as teorias que eu posso elaborar acerca de números: emprego o que tenho de inteligência para ver de longe e de mais alto a minha vida, que se torna a vida de um outro. Mas estes dois processos de conhecimento são difíceis e requerem, um, uma penetração no nosso íntimo, outro, uma saída de nós mesmos.

Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano; trad. de Maria Lamas – Editora Ulisseia

5.7.07


Ir ao quintal e escrever: entre margaças, a papoila seguidora do vento prende os olhos.
Entrar em casa e ler de Eugénio de Andrade:
"Inclina-te como a rosa
só quando o vento passe."

Dá vontade de safar bem safado o que se escreveu. Mas, por causa da papoila, embora com muita pobreza...
Cada um escreve com o céu onde mora!

2.7.07

O choro dos filhos é filho do vento:
sabe explicar se é fome, se de dor grande.

Não estão aqui as palavras todas:
o coração ainda as guarda.

30.6.07

- O que poderia ter eu para te dizer, ó Venerável? Talvez dizer-te que procuras demasiado? Que enquanto procurares nunca conseguirás encontrar?
- Como assim? – perguntou Govinda.
- Quando alguém procura – respondeu Siddharta – pode acontecer que os seus olhos vejam apenas a coisa que procura, que não permitam que ele a encontre porque ele pensa sempre e apenas naquilo que procura, porque ele tem um objectivo, porque está possuído por esse objectivo. Procurar significa ter um objectivo. Mas encontrar significa ser livre, manter-se aberto, não ter objectivos. Tu, Venerável, és talvez um homem à procura, pois, perseguindo o teu objectivo, muitas vezes não vês aquilo que está perante os teus olhos.
- Ainda não te compreendo perfeitamente – disse Govinda; o que queres dizer com isso?

(Hermann Hesse, Siddharta; trad.d De Pedro Miguel Dias)

28.6.07

Vésper, que reúnes tudo quanto a aurora brilhante dispersou:
trazes a ovelha, trazes a cabra, trazes à mãe o filhinho.

Safo (frag. 104 Lobel-Page) - Trad. de Maria Helena Rocha Pereira, Hélade

26.6.07

Vivaldi

(foto de zef)

23.6.07

Da espera

Se não esperar, não encontrará o inesperado, sendo não encontrável e inacessível.
(Heraclito, Fragmento 18 Diels)


Para que se saiba:
Hoje vi:
http://nasciaqui-sobraldesaomiguel.blogspot.com/

Ide ver, porque, entre as primeiras letras, os ninhos e os protestos, aparecem nomes bonitos e antigos. Então aquela cabra Mialva e o zaburro!...

14.6.07

Deus contempla em silêncio
As folhas que caem das árvores
E as folhas que permanecem nos galhos,

E vê que elas o fazem como deve ser.
Enquanto isso, os anjos se ocupam
De outros detalhes, menos difíceis,
Do mundo de Deus.

(Jaime Ovalle - Tradução de Manuel Bandeira)

11.6.07

Delas já sabemos


(fotografias de ontem, de pouca habilidade, mas com muito cuidado)

As andorinhas do ano passado vieram.
Conheceram a casa.
Delas já sabemos!

7.6.07

Se fosse Deus, pintava um quadro:
uma porta meio aberta e a escadaria suave;
no cimo, a minha mãe.
E arranjava maneira de o sorriso dela estar a dizer:
a porta está como a deixaste e
sei que me levaste os olhos.

Não dava nome ao quadro e
todos iam entender que era o retrato do céu.

28.5.07

na casa que tens

quiseste entranhar o amor
e vais roer a dor.

o moinho mói o trigo
e a dor é o sol do teu pão.

o choro é o crescente e a água.

põe na mesa os bocadinhos de trigo e sol
na casa que tens
e espera.

23.5.07

Conversitas

- O que é estar só?
- É: tu estás aqui e sabes que podes chamar por alguém que te responde…
- E o que é ser só?
- É estares aqui e não haver nenhuma figurinha ao alcance, nem ao menos da memória. Ou, então, já saberes tudo…

19.5.07



Maçã, amora, romã na tarde vermelha, bocas de brilho, doçura nos olhos.
Dormem no chão de marcela.

Quando a luz do quase fim do dia chegar, ainda irão pelos campos fora a cantar a música que lhes falta.


16.5.07

(Klimt)


Ainda pasmada, perguntava as palavras para anunciar o que devia ser anunciado.
Queria-as singulares, novas e acolchoadas.

Pôs a mão na barriga e um toque parecia pezito a dizer "sou eu".

"Mas é isto, eu sabia as palavras certas; vou ser mãe; simples."

"Mãe" e "filho" foram as palavras aladas que levou para toda a parte, ora em sussurro, ora bem declamadas, solenes e vaidosas.
Eram também as palavras singulares, novas e acolchoadas.





13.5.07

Para boa e segura memória


“Andei sempre à roda, à roda,
E sempre à roda de ti…"

Não. Não se pode fugir ao magnetismo do íman que tudo atrai e que tudo dispõe. E é justo. Se alguma coisa de verdadeiramente sério e monumental possui a Beira, é justamente a serra. Portugal tem outras mais belas e agrestes – o Gerês, por exemplo. Outras com mais incorruptibilidade – o Marão, para não ir mais longe. Outras mais luxuriantes – como Monchique. Mas nenhuma se lhe compara na maneira como expande a respiração, no modo aberto como desdobra o manto. Em qualquer das suas rivais a emoção que se expande é sempre um espasmo. Um frémito rápido e agudo. N a Estrela, porém, é um demorado fruir de sensações, feitas de surpresas sucessivas. (…) O Marão é um seio que entumesceu num corpo; o Gerês um espinhaço que se fendeu ao meio; Monchique um jardim suspenso. Mas a Estrela é uma expiração de pedra que o quis ser sem literatura. As irmãs são mais cenários do que realidade; ela é mais naturalidade do que artifício.(…) A Estrela, essa, guarda secretamente os ímpetos(…)Somente a quem a passeia, a quem a namora duma paixão presente e esforçada, abre o coração e os tesouros.”

Miguel Torga, Portugal

Obs.:Aqui fica isto, amável sugestão/convite da Renda. Se é MEME, óptimo. Se não, pode passar a sê-lo?...

12.5.07

CÉU

(foto de Marco Pedrosa)


A CRIANÇA olha
Para o céu azul
Levanta a mãozinha
Quer tocar o céu.


Não sente a criança
Que o céu é ilusão
Crê que o não alcança
Quando o tem na mão

(Manuel Bandeira, Belo Belo)

8.5.07

Das árvores


Plantam-se três árvores no quintal e queremos logo que apanhem os nossos ritmos das estações e os ritos das festas.

Fui podar as amoras e não acabei.
Cresçam como e quando quiserem. Elas é que sabem o tempo.

É assim, mas, às vezes, pensa-se noutras coisas e fica-se a cismar…

3.5.07


Afeiçoamo-nos às coisas e aos nomes que guardámos.
É assim que elas duram.

30.4.07

CANÇÃO TONTA

Mamã.
Eu quero ser de prata.

Filho,
terás muito frio.

Mamã.
Eu quero ser de água.

Filho,
terás muito frio.

Mamã.
Borda-me em tua almofada.

Está bem!
Agora mesmo!

(Federico García Lorca, trad. de José Bento)

26.4.07

estás azedo, pai. já não te oiço as palavras ambíguas que dizias e ficavas à espera das respostas. já sabíamos as respostas que esperavas de cada um e baralhávamo-las.

sim, filho, era um jogo bonito. assim como trazer-vos as prendas já pensadas para cada um e cada um pegar na que era para outro.

sim, pai, sobretudo quando percebíamos que já esperavas que as íamos baralhar todas, como com as palavras, e as tinhas escolhido a pensar nisso e ficava tudo como esperavas.

sim, filho, mas o jogo ficava ainda mais bonito quando as escolhas não eram as que esperava.

mas isso acontecia, pai?

ó menino, deixa-te disso. todos percebiam que sim.

ainda estás azedo, pai?

agora estás tu a jogar. que resposta esperas?

a verdadeira, como quando te respondíamos. brincávamos sempre a sério.
responde: ainda estás azedo?

filho, traz-me uvas de malvasia e os cheiros do monte de quando, logo pela manhã, íamos por campos e cabeços a saltar como cabritos até cairmos a rir. vós éreis o que éreis e nós parecíamos maluquinhos.

pai, ainda estás azedo?

traz-nos uvas de malvasia, filho.

25.4.07

A palavra nasceu:
nos lábios cintila.

Carícia ou aroma,
mal pousa nos dedos.

De ramo em ramo voa,
na luz se derrama.

A morte não existe:
tudo é canto ou chama.

(Eugénio de Andrade, Até Amanhã)

Este poema foi posto aqui no dia vinte e cinco de Abril de dois mil e sete

21.4.07


O meu amigo já não se perturbava muito por ir para a cama sozinho, era o que me dizia. Por vezes, sentia a falta de um braço ou de uma perna a dizer “olha, estou aqui”, para poder responder “já tinha notado pelo bater do teu peito”. É que, dizia também, foram tantos os tempos em que adormeceram e acordaram pele com pele e fusão de sentidos…Sentia a falta, mas mantinha a tranquilidade.

Ficava era todo estragado, era assim que falava, quando se via sozinho à mesa, sem ninguém para se ouvirem os silêncios e os olhos se cruzarem: era também por eles que percebiam o que fazia falta um ao outro.

E muitos não entendiam, quando punha na mesa dois e, às vezes, cinco talheres; mas era assim que ficava menos perturbado.

Era sempre com voz calma que falava…

19.4.07



Ao subires o monte
olha o vale e
pára em chão aberto

espera as aves
estuda-lhes o voo e
percebe o vento.

12.4.07

Se é tarde ou cedo para amar ou morrer
é matéria que talvez interesse
aos deuses: por mim, que já paguei
a portagem, estou bem assim -
atento como um gato às moscas
do amor que passa.


Casimiro de Brito, Livro das Quedas, Roma Editora

8.4.07

Disse-te que te guardo nos olhos. Estás lá como criança na barriga.
Quando vieres, será como a primeira luz: vemo-nos logo, e pelos mesmos olhos, e vamos rir até chegar a minha noite.
Depois, vou ficar agasalhado nas tuas pálpebras.

2.4.07

As pedras não entendem como o verde amarelo do musgo põe o muro bonito.

28.3.07

Dos ritos

Houve intenção quando os joelhos se tocaram e as mãos perceberam o convite. O desenho dos olhos e das bocas de dedos suaves conteve a respiração já acelerada e viu tranquilo passeio, dedos conduzindo dedos, palmas e costas das mãos a conhecerem os caminhos e novos modos lindos de andar.

A mesa estava posta. O pão e o vinho pediam também as mãos, a refeição que os juntou prolonga-lhes o gosto.

Há lume no lar, cobertores macios no chão, chuva miudinha nas vidraças. Janelas grandes. A luz, mesmo a mais pequena, nunca fica do lado de fora.E muito tempo.

Olhares e mãos entenderam-se e houve risos e corridas à chuva cabelos molhados de flores de água e de margaridas à chuva e salivas e humores violetas e suores que a chuva adoça flores nos cabelos escorridos corpos pétalas tapete das bem-aventuranças todas as do céu as da terra as de toda a parte

E, à chamada tranquila do chão macio e do lume obsequioso,

estendidos na manta,
todos os lumes encheram a sala.

A noite foi serena e foi grande.

(Obs.: o meu amigo Aires viu esta coisa e depurou-a como ele sabe)

26.3.07

Não tarda


Quando fica escuro e a lonjura dói, perfumo-me e à casa,
ponho a mesa e faço a cama de lavado.
Quem há-de vir não tarda.

21.3.07

Do regresso ou das boas práticas

Sabe ser contido no riso e no choro. As sombras são breves e os sonhos e os perfumes. Não sejas insolente, terás a bênção dos deuses: beberás o vinho com os amigos, à sombra serena do pinheiro e do choupo companheiro das nuvens, reclinados na relva e na marcela cheirosa.
E, se fores de vida íntegra, justo e firme e, no tempo certo, o labor necessário não faltar, deixa que a água descubra os caminhos: preparaste bem o chão.
Porque tudo está no lugar certo, sê contido no riso e no choro, por perto dos teus amigos.

(À vista de Horácio, Odes, II.3, sobretudo)

15.3.07

Vir do frio. Trazer às pregas da pele as lembranças.
O colo da mãe a alisar a alma.
Aninhar o tempo.

13.3.07

Conversitas

(foto vista na net)

- Ouve: melhor que a tristeza morna é o vento frio ou a febre da doença.
- Sei no que estás a pensar.
- Adivinhaste.
- Mas eu ainda não disse!
- E eu também não posso adivinhar?

10.3.07

Explicação do sorriso


A mãe disse-lhe escreve-me
De lá de longe para onde vais
E ela disse não é longe casar
E a mãe sorria cega de dor
E parecia de deslumbramento

(Daniel Faria,Explicação das árvores e de outros animais - Fundação Manuel Leão)
(foto de Zef)

- D.D.D à Piedade; e à Gab. e M. -

6.3.07

As pedrinhas e os búzios


A esplanada tinha meia dúzia de pessoas, uma em cada mesa.
Com lentidão, um homem e uma mulher levantaram-se. Viram-se e, a sorrir da surpresa, foram-se aproximando. Para se cumprimentarem, os rostos hesitaram e as mãos também não sabiam se deviam ser elas; afinal, já se haviam saudado com os dois beijos; mas já tinha passado tanto tempo…

Houve espaço para verem as mãos um do outro: e ele viu-lhe os búzios e ela viu-lhe as pedrinhas brancas que tinham apanhado no Verão anterior.

Riram-se muito, compararam os cabelos brancos e deram-se mesmo conta de que só tinham mais uma ruguita cada um. É que, no tal Verão, tinham dito um ao outro, com algum pejo mas sem corarem, que já tinham feito os cinquenta anos.

E caminharam de mãos dadas, pedrinhas brancas e búzios misturados.

4.3.07

Os dedos brincam com a luz de março -
não há no corpo lugar para a morte
com o sol adormecido no regaço.
Eugénio de Andrade
(foto de Marco Pedrosa)

2.3.07

Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem, cada um como é.

Alberto Caeiro

25.2.07















Os estorninhos põem o carvalho de luto. Mas é por pouco tempo. O sol bate-lhes de chapa e eles espalham-se no pinhal grande.

15.2.07

Canção Final

Aí vem a noite velhinha,
Erma sombra entrevadinha,
Mal pode andar, de cansada.

Já o dia se avizinha,
Já desponta a Madrugada…

E a noite, triste e sozinha,
Tão pálida e fatigada
Da sua longa jornada,
Deita-se e dorme…E a Alvorada
É o sono bom da Noitinha…

E a Noite dorme quentinha,
Na cama que lhe foi dada…

Dorme, dorme, sossegada,
Noite de Deus, sombra minha,
Que o teu sono é madrugada...

Ó erma noite velhinha
Dorme e sonha descansada…

Teixeira de Pascoaes, Senhora da Noite

14.2.07

Nas poucas vezes que se viam, um dizia sempre:
quando nos encontramos é sempre como na tão primeira vez que nos vimos.

13.2.07

Tenho tal medo das palavras dos homens.
Eles exprimem tudo com tanta clareza:
e isto chama-se cão e aquilo casa,
e aqui é o começo e acolá é o fim.

(Rilke, trad. de Paulo Quintela)

8.2.07

E olha o mar

Andava à procura de ritmos e sonoridades de sábia aferição e a perguntar-se se o que dizia era coisa para ser vista, quando vozes começaram a dizer-lhe: não sejas parvo procura é não te fazeres perguntas dessas e olha o mar cada um diz dele o que lhe apetece e nem isso o leva a querer ser bonito feio bravo morte sonho criança bandido amor raiva nem a medir o tamanho das ondas e se queres mais sê é verdadeiro.

6.2.07

A casa














Construí a casa sobre um chão de angústia
mas fi-la de modo a caber lá eu
e tudo que trouxer de fora o coração

(António Rebordão Navarro)

4.2.07














Quando a geada carrega, não é fácil saber-se se devemos proteger, das plantas, as folhas, se as raízes.

1.2.07

Outrora e Hoje

Meu dia outrora principiava alegre;
No entanto, à noite eu chorava.
Hoje, mais velho,
Nascem-me em dúvida os dias, mas
Findam sagrada, serenamente.

(Hölderlin, em trad. de M. Bandeira)

31.1.07

Ouvindo um debate na TV, em 30/Jan/07, sobre a IVG

Aquela senhora ainda é tão novinha, tão novinha e já tem tantas certezas! Ainda não deve saber o que é ter dúvidas e já é docente universitária! No que me toca, se já não tivesse decidido votar sim, iria analisar a hipótese de o fazer.

28.1.07

A meio da manhã

Assim a meio da manhã, no tabuado do café onde se lê o jornal e se mastiga um cimbalino, o puto encosta a bicicleta e entra e sai e olha-me e não pára. Virei-me e ele, em sorriso aberto, pede: pode fazer o favor de me olhar pela bicla? Não demoro.
O riso era lindo e já se ouve falar assim poucas vezes.
Respondo: vai à vontade. Juro que ninguém toca nesse teu tesouro.
A alma cresceu-lhe até à altura do sol das dez horas que já eram. Vi-lho na cara.

Li as notícias e as duas crónicas, troquei dois dedos de conversa com o vizinho da mesa do lado e preparava-me para a publicidade; o puto aparece, de cabelo bem arrumadinho a roçar as orelhas: - desculpe, esqueci-me de lhe dizer que ia cortar o cabelo.
Fiz voz de avô que já viu todas as crianças a crescer: - ouve-me: quando vieres fazer a barba, um dia vais tê-la, nunca deixes o teu tesouro, vais tê-lo, à guarda de ninguém. Podes demorar e os tesouros não se dão bem sozinhos. Um dia vais perceber!
Atirou-me um sorriso e creio que nos percebemos.

26.1.07

Não

"Desejais conhecer a alma? Não a procureis na terra, à luz do Sol. Procurai-a entre os sepulcros, ao luar...Procurai-a nos livros e nos Museus."
(Teixeira de Pascoaes - "O Bailado")

Não, não procureis a alma por aí. Procurai-a à luz do Sol, que é aí que estão os corpos.
Perdão, Teixeira de Pascoaes!

23.1.07

Conversitas













- Cheguei às nuvens, já vejo todos os céus…
- Pois é, mas eu ainda estou muito preso ao chão.
- Não te preocupes. Continuamos logo.
- Percebo agora como o tempo é melhor que a eternidade: lá é tudo agora; não há tempo para mais tarde.
- Quando estiveres filósofo, avisa antes. Fazemos tudo mais tarde.

22.1.07

Do amor

Esta vista de mar, solitariamente,
dói-me. Apenas dois mares,
dois sóis, duas luas
me dariam riso e bálsamo.
A arte da natureza pede
o amor em dois olhares.

Fiama Hasse Pais Brandão, As Fábulas, Quasi, 2002

(De novo para que fique como é devido)

21.1.07

Do amor

Do amor

Esta vista de mar, solitariamente,
dói-me. Apenas dois mares,
dois sóis, duas luas
me dariam riso e bálsamo.
A arte da natureza pede
o amor em dois olhares.

Fiama Hasse Pais Brandão, “As Fábulas”

18.1.07

São Pedro de Moel - Dezembro de 2006





















O mar já não traz o espanto de criança nem a paz que se quer.
E já é custoso mudar de querer.

15.1.07

Escrevendo

Escrevendo quis eu
Salvar a minha alma.
Tentei fazer versos
Não consegui.
Não se pode escrever
Para salvar a alma.
A rendida parte à deriva e canta.

- Marie Luise Kaschnitz; trad.:Paulo Quintela -
In:Rosa do Mundo

10.1.07

Conversitas

- Qual a melhor hora para a pieguice?
- Talvez quando os dias começam a nascer moles…
- Mas, assim, só se pode ser piegas de vez em quando! E, se fosse assim: eu dizia “estou piegas” e tu respondias que sou, não estou. Assim, qualquer aurora, manhã, tarde, pôr de sol, noite funda, aurora…
- Piegas!
- Estafermozinho!

8.1.07

Em Lagos

O mar amanhece mão cinzenta, também larga. estou a dizer-lhe que o cinzento é terno também como toda a mão mãe.

5.1.07

Anda na recolha dos pedaços da alma que, pensa, ainda estão pelos sítios.

Deixou-se aos bocaditos pelos sítios. Deu-lhes um chão de flores e uma cabana para abrigo.
Esqueceu-se do vento.

2.1.07

"Se acender a luz
Não morrerei sozinho"

(Daniel Faria)

1.1.07

É preciso ouvir a luz do fim do dia a dizer: vou ali um bocadinho, não demoro; fica por aí uma gota de orvalho: está lá um raio de luz.