16.7.08

Sonhei assim:
vi alguém à porta da casa e peguei num papel e escrevi:
a minha mãe tinha um Menino Jesus no cordão que me dava as prendas na altura certa.
Pareces o menino do cordão da minha mãe.

Gostei do sonho e é por isso que o conto.

11.7.08



A chuva pede que me cale
ou convida-me a cantar? Ainda
não entendi, vou escutar
com mais atenção, vou encostar
ao búzio delicado da chuva
o ouvido poluído
do coração.

(Casimiro de Brito; O Livro das Quedas)

6.7.08

BEM-AVENTURANÇAS

Bem-aventurados os pássaros,
as nuvens, as madrugadas.

Bem-aventurados são os pássaros.
Para eles
todos os dias
são todos os dias.
Reais, antigos, tutelares.

Nós, coitados,
não sabemos
que fazer deles.
Queremos os dias
limpos, arrumados
com cadeiras.

Felizes os pássaros.
O mar é um animal feliz
e as coisas imaginadas
ali existem.

Bem-aventurados são os pássaros:
não pensam em liberdade
porque voam nela
sem idade.
Nós, coitados,
nem sabemos
que fazer dela.

A nós, o cisco,
o mar baixo.
Arriadas velas,
as acções com elas,
os pensamentos arriados.

Jamais o ir adiante
até onde
a resistência manda,
que se ande,
até onde
perca seu comando
e vá seguindo
quando
for chegando.

Bem-aventurados os pássaros!

(Carlos Nejar)