A meu favor tenho o teu olhar
testemunhando por mim
perante juízes terríveis:
a morte, os amigos, os inimigos.
E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em fundos sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.
Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.
Manuel António Pina, O Caminho de Casa (1989)
26.2.13
22.2.13
(...)
E no entanto nenhuma pessoa, e nenhuma cultura, é melhor que a outra, e também os Brancos têm muito a aprender com os Negros, digo. Por exemplo, os Negros nunca batem nos filhos, trazem-nos junto a si, falam com eles, atravessam juntos o desenrolar das coisas, e as crianças aprendem que há um tempo de trabalho e um tempo de repouso, um tempo de dança e um tempo de sono, há o lugar da vida e o da morte, o da alegria e o da tristeza, o lugar dos humanos e daquilo que é superior a nós e nos ultrapassa.
Uma parte do que colhemos é oferecida aos espíritos, porque não somos donos da natureza, mas apenas seus habitantes. Oferecemos sementes, ou farinha, para mostrar que conhecemos os limites e sabemos que a natureza é maior que nós. Uma parte, por isso, volta a ela, sem ousarmos tocar-lhe.
(...)
Basta-nos no fundo muito pouco, porque somos também pouco: matar a fome, a sede e o desejo de sexo, a esteira para dormir e o coração em paz.
- Teolinda Gersão; A Árvore das Palavras
E no entanto nenhuma pessoa, e nenhuma cultura, é melhor que a outra, e também os Brancos têm muito a aprender com os Negros, digo. Por exemplo, os Negros nunca batem nos filhos, trazem-nos junto a si, falam com eles, atravessam juntos o desenrolar das coisas, e as crianças aprendem que há um tempo de trabalho e um tempo de repouso, um tempo de dança e um tempo de sono, há o lugar da vida e o da morte, o da alegria e o da tristeza, o lugar dos humanos e daquilo que é superior a nós e nos ultrapassa.
Uma parte do que colhemos é oferecida aos espíritos, porque não somos donos da natureza, mas apenas seus habitantes. Oferecemos sementes, ou farinha, para mostrar que conhecemos os limites e sabemos que a natureza é maior que nós. Uma parte, por isso, volta a ela, sem ousarmos tocar-lhe.
(...)
Basta-nos no fundo muito pouco, porque somos também pouco: matar a fome, a sede e o desejo de sexo, a esteira para dormir e o coração em paz.
- Teolinda Gersão; A Árvore das Palavras
17.2.13
Há o silêncio de antes da palavra.
E aquele que, depois dela, deixa sítio
para subirem pausas
com outras dentro desenvolvendo o limbo
por onde suba inviolável, alta
a melodia do que foi esquecido.
Esse silêncio pauta.
Vai decifrando vestígios
de quanto o precedeu no gasto mapa
de que é possível compulsar o ritmo.
E estar à escuta com, ao fundo, a alma
a desprender-se. Subindo
até o silêncio recobrir a água
e desnudar a solidão do espírito.
Fernando Echevarría, Epifanias; Edições Afrontamento, 2006
12.2.13
Às vezes, acorda-se assim
“Quando estiverdes alegres olhai para o fundo do vosso
coração e vereis que aquilo que vos dá alegria não é senão aquilo que vos deu
tristeza. Quando estiverdes tristes olhai de novo para o vosso coração e vereis
que realmente chorais por aquilo que antes vos tinha encantado. Alguns dizem, a
alegria é maior que a tristeza, outros afirmam, não, a tristeza é maior. Mas eu
digo-vos: são inseparáveis, vêm juntas…”
(Khalil Gibran; “Profeta”)
9.2.13
Yo y tú somos ya tú y yo
como el mar y como el cielo
cielo y mar, sin querer, son.
Juan Ramón Jiménez, Estio
Digo tristezas nas manhãs deslavadas:
sou um menino
poucas palavras o aninham.
Olha as minhas mãos.
Tens mãos de lume:
sou menino
e as tuas palavras espuma de sol.
As noites de chuva limpam o céu
inventamos risos bordados
manhãs braços abertos.
Resvalas no meu corpo crescido.
Pareces uma praia de luz
água macia céu alecrim.
Morro nos teus olhos, devagar.
Como o céu adormece no mar.
como el mar y como el cielo
cielo y mar, sin querer, son.
Juan Ramón Jiménez, Estio
Digo tristezas nas manhãs deslavadas:
sou um menino
poucas palavras o aninham.
Olha as minhas mãos.
Tens mãos de lume:
sou menino
e as tuas palavras espuma de sol.
As noites de chuva limpam o céu
inventamos risos bordados
manhãs braços abertos.
Resvalas no meu corpo crescido.
Pareces uma praia de luz
água macia céu alecrim.
Morro nos teus olhos, devagar.
Como o céu adormece no mar.
1.2.13
As coisas andam ásperas,
mas no tempo novo sabíamos descansar na ternura dos campos.
O pôr do sol vai perdendo as cores, meu amor.
O tempo não é novo.
O tempo não é novo,
mas sabíamos a música das flores abertas ao sol.
Fez bem pensar em sítios bonitos,
que os dias não têm maneiras. Os dias adormecem.
Às vezes o tempo é promessa,
pomar de macieiras asseadas de pássaros.
E do voo das abelhas,meu amor.
mas no tempo novo sabíamos descansar na ternura dos campos.
O pôr do sol vai perdendo as cores, meu amor.
O tempo não é novo.
O tempo não é novo,
mas sabíamos a música das flores abertas ao sol.
Fez bem pensar em sítios bonitos,
que os dias não têm maneiras. Os dias adormecem.
Às vezes o tempo é promessa,
pomar de macieiras asseadas de pássaros.
E do voo das abelhas,meu amor.
Subscrever:
Mensagens (Atom)